01 outubro, 2005

do diário de um vírus

sábado, 02 de novembro de 1968

É pouco, é muito pouco. Ser a forma de vida mais simples na mais complexa. Outro corpo para me reproduzir. Minha única condição de vida, que não se cura. A vida de fusão: o que é vivo vai para. O estremecimento gigantesco veio do ventre dela neste momento em que nos fundimos, a hora em que fazemos o grande perigo de. Estamos íntimos e sinto seus núcleos dispersos. Os nervos a descoberto, viciados em intensidade. Existo nesse corpo sem pedir licença. Ela sente a própria dor no instante em que escrevemos, a hora do maior desamparo. O peito estreito. O que é vivo, por ser vivo, se contrai. E então eu soube: a vida nascendo dói. Sem coração, carrego a angina pectoris da alma. Não posso ser apenas eu.


11 de fevereiro de 2001.

Ninguém acredita em elefantes azuis que voam, porque ninguém nunca viu. Eles se confundem com o azul do céu, flutuando como balões de gás. E estão em toda parte.

Eu não acredito, eu sei que elefantes azuis que voam existem, porque sinto e penetro seus corpos. Têm a carne de algodão doce, o sangue feito de sopro, e andam quase se dissolvendo pelo ar, como as últimas imagens de sonho no decorrer do dia. A razão não alcança esses elefantes.

Amo a sutileza desses bichos flanando sobre os arranha-céus. Pegá-los no pulo do sol pela manhã. Revirar o sangue de sopro em ventania pela tarde, descolorir a pele em tons cinza de concreto urbano, esgarçar o algodão da carne até desmanchar o corpo. Enquanto os homens pensam que quem vira é o tempo.

Tromba d’água. Enquanto a razão faz meteorologia.

Um comentário:

ale disse...

o blogue ficou mm mt giro !
adoro vir aqui, obrigada opr me fazeres um sentir um tantinho moro aqui

beijinhos

p.s a anne sexton não ta traduzida aqui tb