25 setembro, 2005

the love plant

A freak but moist flower
tangles my lungs, knits into my heart,
crawls up my throat
and sucks like octopi on my tongue.
You planted it happily last summer
and I let it take root with my moon-hope,
not knowing it would come to crowd me out,
to explode inside me this March.
All winter trying to diminish it,
I felt it enlarge.
But of course never spoke to you of this,
for my sanity was awful enough,
and I felt compelled to think only of yours.
Now that you have gone for always
why does not the plant shrivel up?
I try to force it away.
I swallow stones.
Three times I swallow slender vials
with crossbones on them.

But it thrives on their liquid solution.
I light matches and put them in my mouth,
and my teeth melt but the greenery hisses on.
I drink blood from my wrists
and the green slips out like a bracelet.
Coudn't one of my keepers get a lawn mower
and chop it down if I turned inside out for an hour?
This flower, this pulp, the hay stuff
has got me, got me.
Apparently both of us are unkillable.

I am coughing. I am gagging. I feel it enter
the nasal passages, the sinus, lower, upper
and thus to the brain - spurting out of my eyes,
I must find a surgeon who will cut it out, burn it out
as they do sometimes with violent epileptics.
I will dial one quickly before I erupt!

Would you guess at it
if you looked at me swinging down Comm. Ave.
in my long black coat with its fur hood,
and my long pink skirt poking out step by step?
That under the coat, the pink, the bra, the pants,
in the recesses where love knelt
a coughing plant is smothering me?

Perhaps I am becoming unhuman
and should accept its natural order?
Perhaps I am becoming part of the green world
and maybe a rose will just pop out of my mouth?
Oh passerby, let me bite it off and spit it at you
so you can say "How nice!" and nod your thanks
and walk three blocks to your lady love
and she will stick it behind her ear
not knowing it will crawl into her ear, her brain
and drive her mad.

Then she will be like me -
a pink doll with her frantic green stuffing.




Uma flor anômala e úmida
embaraça meus pulmões, se entrelaça no meu coração,
sobe pela minha garganta
e suga a minha língua como um polvo.
Você a plantou alegremente no último verão
e eu com minha esperança lunática a deixei criar raízes,
sem saber que ela chegava pra me expulsar,
pra explodir em mim neste Setembro.
O inverno inteiro tentando desdenhá-la,
eu a senti crescer.
Mas é claro que nunca te falei disso,
pois minha sanidade era terrível bastante,
e me sentia obrigada a pensar só em você.
Agora que você se foi pra sempre
por que a planta não definha?
Tento forçá-la pra fora.
Engulo pedras.
Engulo três vezes parcas ampolas
tarja preta.
Mas ela se diverte naquele líquido.
Acendo fósforos e ponho na boca,
e meus dentes se derretem, mas a folhagem sibila.
Bebo sangue dos meus pulsos
e o verde escapole como um bracelete.
Será que um dos meus vigias não podia pegar um cortador de grama
e triturá-la se eu me virasse do avesso por uma hora?
Essa flor, essa polpa, essa coisa feno
me domina, me dominou.
Parece que ambas somos inextermináveis.
Estou tossindo. Engasgando. Eu a sinto entrar
pelas fossas, seios nasais, mais pra baixo, mais pra cima
e aí para o cérebro - jorrando pelos meus olhos,
preciso achar um cirurgião que a extirpe, que a incinere,
como fazem às vezes com epilépticos violentos.
Vou chamar logo um, antes que eu entre em erupção!
Você ia adivinhar
se me visse rebolando avenida abaixo,
no meu longo casaco negro de capuz de pele,
com minha longa saia rosa se espevitando passo a passo?
Que sob o casaco, o rosa, o sutiã, as calças,
nos recônditos onde o amor se ajoelhava
uma planta tossideira me sufoca?
Quem sabe eu esteja me tornando desumana
e deva aceitar essa ordem natural?
Quem sabe eu esteja me tornando parte do mundo vegetal
e talvez uma rosa vá pipocar de repente na minha boca?
Oh passante, deixe-me arrancá-la a dentadas e cuspi-la sobre você
aí você vai poder dizer "Que bom!" e acenar grato
e andar três quarteirões até sua amada dama
e ela então espetará a flor atrás da orelha
sem saber que a planta vai penetrá-la pela orelha, pelo cérebro
e enlouquecê-la.
Então ela será como eu -
uma boneca rosa com seu desvairado enchimento verde.
Anne Sexton, trad. chamilly

será que um dia sai?

22 setembro, 2005

meu amor,

de repente era preciso tocar todos os seus panos porque pano é que nem paixão tem que pegar pra sentir a costureira me falou e eu acreditei e fui no ônibus pensando pensando e você ia sempre tão longe procurando os irreais enquanto eu estorvo inútil puxando seus cobertores sobrando que nem jiló na janta na sua cama, um dia vou ficar velhinha e queria que fosse quentinha do seu lado com foguinho no coração e aí eu podia ter todos os motivos menos um pra ser triste e então seria alegre só por um milagre seu mas agora que você se foi pra sempre tenho é todos os motivos pra ser triste e aí não tem jeito porque fico é triste mesmo e isso tudo é tão difícil porque sei que é mentira essa história de amizade é conversa pra boi dormir e eu não durmo não sou boi só boba mesmo e tenho insônia até o remédio fazer efeito, sei que vamos sumir nos mundos cada um com o seu e quando a gente encontrar vai ser tudo tão estranho, oi, tudo bem? tudo, e você? e isso não vai ser verdade é só pra gente ser civilizada e parecer que é gente grande porque eu inda não sei nem sei quando vou saber e quando (se) souber já será tarde como chegar perto de você sem ser perto do meu amor e aí você vai começar com um papo burocracia que não é nada do que eu quero dizer nem o que me importa saber e quando você disser que a cleo pires é linda, eh lém casa, eu vou ter que concordar morrendo de ciúme-ciúme mas só por dentro que sou gente grande civilizada e não vou mostrar meu coração pesado e gigante que eu preciso esvaziar e muito embora eu saiba que não adianta que não tem mais nada a ver que não há nada que eu possa fazer que você não quer me ver, mesmo assim eu vou gritar vou correr e vou chorar até ficar

Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas estão torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe)

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Drummond

21 setembro, 2005

poeminha da terceira série

os ônibus têm número e destino
os ônibus sempre têm gente
a gente espera os ônibus
às vezes espera muito
nem sempre eles param pra gente
a gente sempre perde um
e depois pega outro
e às vezes pega errado
ônibus certo na hora certa
é a coisa mais rara
e sempre tem a hora de descer
(mesmo se a gente não quer)

eu não entendo os ônibus
ônibus são que nem gente

quero que vão todos para a puta que os pariu

19 setembro, 2005

trilha para um de doloridíssimos cotovelos sábado

Devolva-me
Renato Barros / Lilian Knapp

Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor meu bem
O retrato que eu te dei
Se ainda tens não sei
Mas se tiver devolva-me
Deixe-me sozinho
Porque assim eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz
Junto do seu novo rapaz
O retrato que eu te dei
Se ainda tens não sei
Mas se tiver devolva-me


Vambora
Adriana Calcanhotto

Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Vem
Vambora
Que o que você demora
É o tempo que leva
Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda têm você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Dentro da noite Veloz
Ainda tem o seu perfume pela casa
Ainda têm você na sala
Porque meu coração dispara
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Na cinza das horas

fim de caso

- eu quero que você fique bem
- mamãe também

15 setembro, 2005

sim, mamãe II

e outro dia fui pra espanha

blecaute

depois que você foi embora
eu fiquei riscando fósforos

13 setembro, 2005

idade

era uma vez muito velha
e não ligava pra mesuras

porque eu nunca ia ter essas imagens tão levinhas de pipoca no parque no cinema

algodão doce

porque o grão de açúcar derretendo na ponta da língua nunca ia ser suficiente, por mais que fossem vários e as línguas muitas.

11 setembro, 2005

06 setembro, 2005

I shall not care

When I am dead and over me bright April
Shakes out her rain-drenched hair,
Though you should lean above me broken-hearted,
I shall not care.

I shall have peace, as leafy trees are peaceful
When rain bends down the bough;
And I shall be more silent and cold-hearted
Than you are now

Sara Tisdale


Não me importarei nada

Quando estiver morta, e sobre mim o claro abril

sacudir seus cabelos de chuvas compactas,
embora vergues para mim de alma partida,
não me importarei nada.

Terei a paz que têm as árvores espessas
sob a chuva que os ramos lhes dobra.
E terei mais silêncio e um coração mais frio
do que tu, agora.

Trad. Cecília Meireles

sim, mamãe

tenho sonhado (literalmente) muito com mudar de país ultimamente. já mudei pros estados unidos, argentina e portugal. contei pra mamãe e ela disse: filha, vc está querendo fugir, é melhor chorar de uma vez.

04 setembro, 2005

e o amor sempre era uma vez que podia tanto e no fim era só aquilo mesmo, a gente ali, no olho da rua do furacão, gastando bisturi no asfalto, e aquela insistência em pronunciar tão bem uma língua morta

cartas e portuguesas

.depois de muitos anos vagando por invernos e batalhas, o cavaleiro de chamilly alcançou o convento de beja, onde o esperava sua amada mariana. ele levava cartas que não quis confiar aos correios, mas tampouco permitiu que ela as lesse. atearam-se logo fogo, às vestes, sim. pois era apenas chamilly apaixonado, chegando entre gatos e passarinhos, ao som dos tangos do piazzola. músicas alheias dedicadas a amante, palavras antigas do fundo de um rio amarelo. todos os tejos desaguavam no mar das águas de colônia, para molhar o pão de mel de todo dia que os alimentava. o chantilly veio depois, acompanhado dos suspiros e morangos e quiches e o clássico employer de poste, que tantas vezes havia falhado, e na verdade veio uma vez só.

.mas o inverno veio de novo e de novo chamilly partiu. novas cartas com promessas, outras tantas contrabandeadas, sem falar... mariana pedia volta, casa comigo. chamilly na neve, era tão branca e fria e mariana não. e as cartas e um amor correspondido, outro ficando sem resposta e o bordado de iniciais no lenço foi se desfazendo pelo fio solto. primeiro de abril no hemisfério norte, chamilly foi preso, chamilly acorrentado. cartas paravam de chegar, mariana definhando e de repente. quando chamilly chegou seria tarde demais. agora mariana é morta.