28 dezembro, 2005

por pura cor vadia

por pura cor vadia

muito de leve eu podia te tocar.

mas não.

purpúrea covardia.

22 dezembro, 2005

por ocasião do natal

The author of the Jesus papers speaks



In my dream
I milked a cow,
the terrible udder
like a great rubber lily
sweated in my fingers
and as I yanked,
waiting for the moon juice,
waiting for the white mother,
blood spurted from it
and covered me with shame.
Then God spoke to me and said:
People say only good things about Christmas.
If they want to say something bad
they whisper.
So I went to the well and drew a baby
out of the hollow water.
Then God spoke to me and said:
Here. Take this gingerbread lady
and put her in your oven.
When the cow gives blood
and the Christ is born
we must all eat sacrifices.
We must all eat beautiful women.






Fala o Autor dos escritos de Jesus


No meu sonho,
eu ordenhava uma vaca,
o úbere medonho
como um enorme lírio de borracha
suava entre meus dedos
e enquanto eu puxava,
esperando o suco de lua,
esperando a branca mãe,
jorrou sangue
e me cobriu de vergonha.
Então Deus me falou, e disse:
As pessoas só dizem coisas boas na época do Natal.
Se querem dizer algo ruim,
elas sussurram.
Aí eu fui até o poço
e puxei um bebê da água profunda.
E então Deus me falou, e disse:
Eis aqui. Tome uma mulher de bolo de gengibre
e ponha no seu forno.
Quando a vaca dá sangue
e é nascido o Cristo
todos devemos comer sacrifícios.
Todos devemos comer belas mulheres.
Anne Sexton, trad. c.

12 dezembro, 2005

por ocasião de uma releitura d'O Cortiço

Fado tropical


Chico Buarque - Ruy Guerra



Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal


"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."


Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."


Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial

06 dezembro, 2005

palavradura

rude

a pa-
lavra-
dura

urdidura
escalavra
e
caladura