por pura cor vadia
por pura cor vadia
muito de leve eu podia te tocar.
mas não.
purpúrea covardia.
for a new long winter journey
por pura cor vadia
muito de leve eu podia te tocar.
mas não.
purpúrea covardia.
Postado por c. às 11:46 2 passo(s) em volta
The author of the Jesus papers speaks
In my dream
I milked a cow,
the terrible udder
like a great rubber lily
sweated in my fingers
and as I yanked,
waiting for the moon juice,
waiting for the white mother,
blood spurted from it
and covered me with shame.
Then God spoke to me and said:
People say only good things about Christmas.
If they want to say something bad
they whisper.
So I went to the well and drew a baby
out of the hollow water.
Then God spoke to me and said:
Here. Take this gingerbread lady
and put her in your oven.
When the cow gives blood
and the Christ is born
we must all eat sacrifices.
We must all eat beautiful women.
Postado por c. às 11:58 2 passo(s) em volta
Fado tropical
Postado por c. às 21:02 1 passo(s) em volta
rude a pa- lavra- dura urdidura escalavra e caladura |
Postado por c. às 20:59 0 passo(s) em volta
porque este foi um ano de dois invernos e duas primaveras
porque a fome sempre chega
porque o céu pode ser azul mesmo quando neva
porque os invernos se revezam
porque não neva lá fora
porque voltarei a comer pétalas de flor
porque desmancharei laços de fita
Postado por c. às 17:15 2 passo(s) em volta
cenouras*
(frederyko)
eu hoje tenho um assundo delicado pra falar com você
eu muito tenho meditado sobre a vida que você esqueceu
você está com a cabeça virada para o nada
e não procura nem saber o que eu penso e o que faço
eu acredito que você ainda tenha uma pequena chance
e eu encontrei a solução pro seu caso
e lhe proponho um tratamento pra você melhorar
eu vou plantar cenouras na sua cabeça
*post com agradecimentos especias à moça do laço de fita, que encontrou-me a música
Postado por c. às 22:55 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 23:10 3 passo(s) em volta
For America is a land of Commies and Prohibitionists but Anne does not see it. Anne is locked in. The Trotskyites don’t see her. The Republicans have never tweaked her chin for she is not there. Anne hides inside folding and unfolding rose after rose. She has no one. She has Christopher. They sit in their room pinching the dolls’ noses, poking the doll’s eyes. One time they gave a doll a ride in a fuzzy slipper but that was too far, too far wasn’t it. Anne did not dare. She put the slipper with the doll inside it as in a car right into the closet and pushed the door shut.
For America is the headlight man at the Ford plant in Detroit, Michigan, he of the wires, he of the white globe, all day, all day, all year all his year’s headlights, seventy a day, improved by automation but Anne does not.
For America is a miner in Ohio, slipping into the dark hole and bringing forth cat’s eyes each night.
For America is only this room… there is no useful activity.
For America only your dolls are cheerful.
Anne Sexton
Porque a América é uma terra de comunas e proibicionistas, mas Anne não vê isso. Anne está trancada. Os trotskistas não a vêem. Os republicanos nunca torceram o queixo dela, pois ela não está lá. Anne se esconde do lado de dentro a dobrar e desdobrar rosa após rosa. Ela não tem ninguém. Ela tem Christopher. Eles se sentam na sala, beliscando o nariz das bonecas, furando os olhos delas. Uma vez eles deram carona pra uma boneca numa pantufa de pelúcia, mas aquilo estava muito distante, muito longe não foi. Anne não arriscou. Ela pôs a pantufa com a boneca dentro como num carro direto pro armário e trancou a porta.
Porque a América é o homem-farol na fábrica da Ford em Detroit, Michigan, ele dos fios, ele do globo branco, o dia inteiro, o dia inteiro, o ano inteiro todos os faróis do seu ano inteiro, setenta por dia, aperfeiçoado pela automação mas Anne não.
Porque a América é um mineiro em Ohio, deslizando para um buraco escuro e trazendo à tona olhos-de-gato a cada noite.
Porque a América é apenas este quarto... nenhum afazer é útil.
Para a América apenas suas bonecas são alegres.
trad. chamilly
Postado por c. às 22:30 2 passo(s) em volta
For America is a reformed burglar turned locksmith who pulls up the shades of his shop at nine A.M. daily (except Sunday when he leaves his phone number on the shop door).
For America is a fat woman dusting a grand piano in English Creek, New Jersey.
For America is a suede glove manufactorer sitting in his large swivel chair feeling the goods and assessing his assets and debits.
For America is a bus driver in Embarass, Minnesota, clocking the miles and watching the little cardboards file by.
Anne Sexton
Porque a América é um ladrão regenerado trabalhando como chaveiro que acende as luzes de sua oficina diariamente às nove da manhã (exceto aos domingos, quando deixa seu telefone na porta da oficina).
Porque a América é uma mulher gorda espanando um grande piano em English Creek, Nova Jérsei.
Porque a América é um fabricante de luvas de camurça sentado em sua grande cadeira giratória apalpando as mercadorias e calculando seus ativos e passivos.
Porque a América é um motorista de ônibus em Embarass, Minnesota, medindo as milhas e assistindo às pequenas malas de papelão passarem em fila.
trad. chamilly
*again: a divisão em partes foi feita por mim, por razões técnicas. a esperança continua a mesma.
Postado por c. às 22:29 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 00:23 1 passo(s) em volta
- 1. tome uma folha de papel em branco azul ou preta.
0. escreva algo inédito que seja no mínimo muito bom e crie estima por ele. não faça cópias.
1. vá a uma esquina ou praça levando seu texto pela mão.
2. segure o papel pelos cabelos.
3. leia bem muito em voz alta. caso o texto seja curto, repita a leitura continuamente, acrescentando sal aos poucos.
4. acenda seu isqueiro laranja.
5. toque fogo no papel, começando pelos pés . (nesse ponto, espera-se que o declamador seja tomado de desespero e acelere sua leitura)
6. continue lendo até que seus olhos encontrem a linha do fogo.
7. aconteça o que acontecer, não solte o papel.
. a queimadura na ponta dos dedos ao fim de tudo será o de menos.
Postado por c. às 17:12 1 passo(s) em volta
com pouco anunciava:
passa-se o ponto
(e a cruz)
Postado por c. às 00:16 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 23:25 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 01:40 0 passo(s) em volta
filha, você acha realmente que a vida será tão pobre a ponto de nunca mais?
Postado por c. às 19:02 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 10:48 0 passo(s) em volta
sábado, 02 de novembro de 1968
É pouco, é muito pouco. Ser a forma de vida mais simples na mais complexa. Outro corpo para me reproduzir. Minha única condição de vida, que não se cura. A vida de fusão: o que é vivo vai para. O estremecimento gigantesco veio do ventre dela neste momento em que nos fundimos, a hora em que fazemos o grande perigo de. Estamos íntimos e sinto seus núcleos dispersos. Os nervos a descoberto, viciados em intensidade. Existo nesse corpo sem pedir licença. Ela sente a própria dor no instante em que escrevemos, a hora do maior desamparo. O peito estreito. O que é vivo, por ser vivo, se contrai. E então eu soube: a vida nascendo dói. Sem coração, carrego a angina pectoris da alma. Não posso ser apenas eu.
11 de fevereiro de 2001.
Ninguém acredita em elefantes azuis que voam, porque ninguém nunca viu. Eles se confundem com o azul do céu, flutuando como balões de gás. E estão em toda parte.
Eu não acredito, eu sei que elefantes azuis que voam existem, porque sinto e penetro seus corpos. Têm a carne de algodão doce, o sangue feito de sopro, e andam quase se dissolvendo pelo ar, como as últimas imagens de sonho no decorrer do dia. A razão não alcança esses elefantes.
Amo a sutileza desses bichos flanando sobre os arranha-céus. Pegá-los no pulo do sol pela manhã. Revirar o sangue de sopro em ventania pela tarde, descolorir a pele em tons cinza de concreto urbano, esgarçar o algodão da carne até desmanchar o corpo. Enquanto os homens pensam que quem vira é o tempo.
Tromba d’água. Enquanto a razão faz meteorologia.
Postado por c. às 00:06 1 passo(s) em volta
A freak but moist flower
tangles my lungs, knits into my heart,
crawls up my throat
and sucks like octopi on my tongue.
You planted it happily last summer
and I let it take root with my moon-hope,
not knowing it would come to crowd me out,
to explode inside me this March.
All winter trying to diminish it,
I felt it enlarge.
But of course never spoke to you of this,
for my sanity was awful enough,
and I felt compelled to think only of yours.
Now that you have gone for always
why does not the plant shrivel up?
I try to force it away.
I swallow stones.
Three times I swallow slender vials
with crossbones on them.
But it thrives on their liquid solution.
I light matches and put them in my mouth,
and my teeth melt but the greenery hisses on.
I drink blood from my wrists
and the green slips out like a bracelet.
Coudn't one of my keepers get a lawn mower
and chop it down if I turned inside out for an hour?
This flower, this pulp, the hay stuff
has got me, got me.
Apparently both of us are unkillable.
I am coughing. I am gagging. I feel it enter
the nasal passages, the sinus, lower, upper
and thus to the brain - spurting out of my eyes,
I must find a surgeon who will cut it out, burn it out
as they do sometimes with violent epileptics.
I will dial one quickly before I erupt!
Would you guess at it
if you looked at me swinging down Comm. Ave.
in my long black coat with its fur hood,
and my long pink skirt poking out step by step?
That under the coat, the pink, the bra, the pants,
in the recesses where love knelt
a coughing plant is smothering me?
Perhaps I am becoming unhuman
and should accept its natural order?
Perhaps I am becoming part of the green world
and maybe a rose will just pop out of my mouth?
Oh passerby, let me bite it off and spit it at you
so you can say "How nice!" and nod your thanks
and walk three blocks to your lady love
and she will stick it behind her ear
not knowing it will crawl into her ear, her brain
and drive her mad.
Then she will be like me -
a pink doll with her frantic green stuffing.
Postado por c. às 19:12 2 passo(s) em volta
Postado por c. às 19:29 1 passo(s) em volta
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas estão torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe)
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Drummond
Postado por c. às 00:00 1 passo(s) em volta
os ônibus têm número e destino
os ônibus sempre têm gente
a gente espera os ônibus
às vezes espera muito
nem sempre eles param pra gente
a gente sempre perde um
e depois pega outro
e às vezes pega errado
ônibus certo na hora certa
é a coisa mais rara
e sempre tem a hora de descer
(mesmo se a gente não quer)
eu não entendo os ônibus
ônibus são que nem gente
quero que vão todos para a puta que os pariu
Postado por c. às 00:50 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 19:03 0 passo(s) em volta
depois que você foi embora
eu fiquei riscando fósforos
Postado por c. às 20:17 0 passo(s) em volta
Postado por c. às 00:09 0 passo(s) em volta
When I am dead and over me bright April
Shakes out her rain-drenched hair,
Though you should lean above me broken-hearted,
I shall not care.
I shall have peace, as leafy trees are peaceful
When rain bends down the bough;
And I shall be more silent and cold-hearted
Than you are now
Sara Tisdale
Não me importarei nada
Quando estiver morta, e sobre mim o claro abril
sacudir seus cabelos de chuvas compactas,
embora vergues para mim de alma partida,
não me importarei nada.
Terei a paz que têm as árvores espessas
sob a chuva que os ramos lhes dobra.
E terei mais silêncio e um coração mais frio
do que tu, agora.
Trad. Cecília Meireles
Postado por c. às 00:31 1 passo(s) em volta
tenho sonhado (literalmente) muito com mudar de país ultimamente. já mudei pros estados unidos, argentina e portugal. contei pra mamãe e ela disse: filha, vc está querendo fugir, é melhor chorar de uma vez.
Postado por c. às 00:27 0 passo(s) em volta
e o amor sempre era uma vez que podia tanto e no fim era só aquilo mesmo, a gente ali, no olho da rua do furacão, gastando bisturi no asfalto, e aquela insistência em pronunciar tão bem uma língua morta
Postado por c. às 23:51 1 passo(s) em volta
.depois de muitos anos vagando por invernos e batalhas, o cavaleiro de chamilly alcançou o convento de beja, onde o esperava sua amada mariana. ele levava cartas que não quis confiar aos correios, mas tampouco permitiu que ela as lesse. atearam-se logo fogo, às vestes, sim. pois era apenas chamilly apaixonado, chegando entre gatos e passarinhos, ao som dos tangos do piazzola. músicas alheias dedicadas a amante, palavras antigas do fundo de um rio amarelo. todos os tejos desaguavam no mar das águas de colônia, para molhar o pão de mel de todo dia que os alimentava. o chantilly veio depois, acompanhado dos suspiros e morangos e quiches e o clássico employer de poste, que tantas vezes havia falhado, e na verdade veio uma vez só.
.mas o inverno veio de novo e de novo chamilly partiu. novas cartas com promessas, outras tantas contrabandeadas, sem falar... mariana pedia volta, casa comigo. chamilly na neve, era tão branca e fria e mariana não. e as cartas e um amor correspondido, outro ficando sem resposta e o bordado de iniciais no lenço foi se desfazendo pelo fio solto. primeiro de abril no hemisfério norte, chamilly foi preso, chamilly acorrentado. cartas paravam de chegar, mariana definhando e de repente. quando chamilly chegou seria tarde demais. agora mariana é morta.
Postado por c. às 16:50 0 passo(s) em volta